segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eutanásia? Sim, defendo!

A propósito desta notícia dei comigo a recordar as discussões, por vezes bem acaloradas, que tinha com o meu pai sobre este tema.
Desde que me lembro que defendo o direito que cada um deve ter a terminar a sua vida com o mínimo de dignidade e qualidade de vida. Isso levou-me a defender com unhas e dentes a ideia da eutanásia e do testamento vital, Já o meu pai defendia que isso era uma estupidez, que nunca sabemos quando estamos a fazer a melhor escolha porque a medicina está sempre a evoluir e o que hoje não tem cura amanhã não tem qualquer significado. Nunca chegamos a um entendimento e tivemos esta discussão anos a fio.
Até que o meu pai ficou acamado e totalmente dependente dos outros para comer, para tratar da sua higiene pessoal, para tudo... Muitas vezes, a maldita doença roubava-lhe o entendimento, mas lembro-me de um dia em que eu e a minha mãe lhe mudavamos a fralda e ele, coitado, se sujou novamente sem disso ter consciência. Ao ouvir os nossos desabafos ("Oh, agora temos de o lavar novamente..."), agarrou-me na mãe e, com os olhos marejados de lágrimas, disse-me simplesmente "Tu tinhas razão...". "Sobre o quê, papá?" - respondi-lhe eu. "Sobre a eutanásia."... E os nossos olhares tocaram-se, as nossas mãos agarraram-se e eu percebi que, naquele momento, o meu pai tinha plena consciência que a sua vida já não lhe pertencia. Ele que tinha um orgulho imenso em dizer que podia tudo, já nem no seu corpo mandava...

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